domingo, 22 de março de 2009

2 Solstício de Inverno

Foi Solstício de Inverno há três dias e, como de costume, as bruxas vieram á minha casa para me pedir ajuda em recolher a lenha. Disseram elas que a fogueira desse ano deveria ser a maior já feita, que mesmo na Terra Encantada dos Elfos, Fadas, Gnomos e Ogros ela seria vista e teria seu calor sentido. Aquiesci, pois discutir com uma bruxa não é apenas cansativo, mas também perigoso. Não sou dado á superstições, mas estudos místicos de confiança comprovam que contrariar bruxas causa má sorte, e eu não preciso disso no momento. Nem nunca.
A tarefa demorou mais do que o esperado. Elas insistiram em não apenas lenha, mas em muitas outras coisas para queimar na fogueira, especialmente entranhas de animais capturados, e eu capturei a maioria deles. Foi trabalhoso fazer armadilhas para os pássaros, mas nada se comparou á emboscar um urso com uma pedra que pesava quase tanto quanto eu. Finalmente, com combustível o suficiente, eu as ajudei a construir a fogueira, e devo admitir que o esforço fora recompensado, pois foi um magnífico fogo. As bruxas logo se esqueceram de mim assim que a noite caiu e o frenesi da ocasião tomou suas almas, e eu assisti, maravilhado, aquela demonstração ritual de danças celebrando... Bem, não sou especialista no que as bruxas celebram, mas era magnífico.
Em dado momento, quando a lua estava alta, todas se aproximaram da fogueira, cada uma á seu modo, e atiravam alguma coisa no fogo – algo muito pequeno para se ver. Uma das bruxas tomou meus braços e explicou com uma gargalhada alucinante, enquanto me rodopiava, que na fogueira deve ser atirada terra com mágoas, para que estas fiquem queimadas. Fiz o meu possível. Também atirei um punhado de terra, na esperança de que os fantasmas de meu passado não me assombrassem mais.
Gradualmente a festa foi crescendo, pois era literal o fato de que a fogueira fora sentida no Outro Lado do Horizonte. A Hoste começou a aparecer, cordial e educada, seguida pelos abundantes seres mágicos que variam tanto em tamanho, cores, gestos – até mesmo quantidade de membros – que classifica-los como espécie levaria á loucura qualquer um.
Eles também atiraram suas mágoas na fogueira. Fiquei pensando quais medos e tristezas vivem no coração de quem é imortal como as Fadas. E suas lágrimas, são iguais as nossas? Ou só o fato de que eles também choram já é o suficiente para sermos semelhantes?
Como toda festa, essa teve um fim, após o clímax do nascer do sol. As Fadas foram embora e as bruxas perceberam minha presença ainda no local, e se aproveitaram disto para me pedir ajuda em varrer o local onde estava a fogueira para consagrá-lo.
Próximo Solstício de Inverno espero apenas que as bruxas tenham a decência de me lembrar de levar um agasalho. E de dizer “obrigado” de vez em quando!

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