quinta-feira, 19 de março de 2009

1 Oceano de Quietude

Há um vasto abismo de divergências entre eu e o Sr. Bloomberg, que talvez nunca seja cruzado. Ambos somos teimosos e dados á manipular uma conversação para nossos próprios interesses, e nos conhecemos bem demais ao ponto de que qualquer conversa entre nós rapidamente se transforme em um jogo de estratégia – ou em uma catástrofe violenta, como quase foi o caso hoje.
Desta vez, como em tantas outras, o assunto em pauta foi a natureza humana, e nesse assunto somos sempre inclinados á discordar. O Sr. Bloomberg acredita que seres humanos mudam seus padrões de comportamento conforme eles revêem suas prioridades na vida, e que as escolhas são mais importantes que eventos exteriores á consciência. Eu, naturalmente, não posso concordar com isso, de maneira alguma. Minha opinião é de que o ser humano se adapta á novas situações; Nunca realmente mudando, é o mundo que na verdade muda á sua volta, e os fatores aleatórios que compõem a natureza caótica do universo têm mais peso em nossas vidas do que nossas decisões.
Presumo que o ponto de vista do Sr. Bloomberg venha de uma crença ingênua no progresso intelectual do indivíduo e uma ignorância á respeito de como o universo funciona. Naturalmente que ele ficou furioso quando eu lhe disse isso. Disse que eu era apenas mais um dos derrotistas que levam o mundo á falência com minha visão pessimista. Com voz alterada e gestos frenéticos, me acusava de levar tragédia para os lares de todo o mundo. Tentei acalmá-lo e explicar para ele que minha visão não é pessimista nem otimista, pois o caos não tem direção. Ele cordialmente ouviu o resto de minha explicação durante o chá, mas se apressou em ir embora com um tom seco em sua voz quando se despediu.
É tão raro em meio á esse caos encontrar um lugar calmo, um jardim ordenado o suficiente que aceite plantações. E, mesmo que sejam encontrados eles mudam de novo e novamente, pois caos só gera mais caos – essa é sua natureza. Talvez por isso a Paz seja uma virtude tão preciosa, pois mesmo uma gota de Paz pode ser um Oceano de Quietude para aqueles que sabem apreciá-la e tem essa oportunidade. O Caos não é neutralizado nesses locais, apenas posto em perspectiva; Afinal, existe um “motivo” para o caos universal, e é apenas aproveitando esses momentos que vislumbramos a glória de sua existência e nossa alma é plenamente revigorada com a satisfação de viver, apenas viver, sem depender de ordem alguma.
Só espero que o Sr. Bloomberg tenha chegado bem á sua casa. Deus sabe que eu me preocupo com a quantidade de conhaque que esse homem ingere, e me preocupo também com seus sentimentos, embora ele provavelmente não acredite nisso, da maneira que ele ataca minhas análises. Mas sei que ele não guarda rancores e provavelmente será em breve que nos encontraremos para mais um caloroso debate.

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